Onde eu nasci ?

Recentemente minha filha estava incumbida de uma tarefa escolar.
Aliás nos estados unidos, onde resido atualmente, por mais que sejam diferentes os povos e costumes, todos nós viemos de famílias oriundas de outras nacionalidades, somos filhos de imigrantes de certa forma. O velho continente foi um dos primeiros descobridores e também os primeiros colonizadores.
Partindo desse princípio, o desenrolar familiar dentro de todo o contexto geral relacionado à civilização dos dias de hoje, somos todos sul americanos emigrantes em nosso próprio país.
Sem entrar na questão de como fomos colonizados e tal.
Somente inicio este preâmbulo, para que possam, àqueles que não me conhecem, ou que compartilham comigo entendem a s minhas palavras.
Pois bem, minha filha teria que fazer um trabalho escolar “tree of life”, a árvore genealógica de mim e de minha esposa.
Seriam as perguntas como: quem foram os bisavós, avós, tenho tios, primas. De onde eu venho em termos de descendência familiar? Este trabalho surgiu em momento oportuno para mim, porque já estava buscando minhas origens, sem muito êxito, e essa tarefa escolar veio facilitar, de forma que eu pudesse “buscar” minhas origens, onde nasci, meus bisavós, avós, tataravós, tios , tias etc.
Comecei a averiguar poucos documentos que tenho, afim de completarmos o programa de pesquisa que estava para formar a minha filha Melanie.
Este é o propósito desta minha crônica, mostrar de onde eu vim, onde eu nasci, meus avós, tios etc.
Nasci na vilinha, encostada no morro aonde passava um canal de água, próxima à vila de santa helena. Em uma casa simples de família de origem uma parte italiana (lado de minha mãe), e parte de brasileiros do campo (lado de meu pai).
Meu nome Noel , veio através da data de meu nascimento, dezembro 06 1952, dia de são Nicolau, o “santa claus” para os europeus, o “papai noel “ para nós, daí a origem de meu nome, um nome mais apropriado para aquele recém- nascido de um casal de origem simples.
Na minha certidão de batismo consta: filho de Eurides rocha dos santos (nascido na antiga fazenda São Franciso) e de Orlanda Moraes dos santos (nascida no antigo município de Votorantim) , avós paternos Francisco Rocha e Cantidia Rocha (ambos nascidos na antiga fazenda São Srancisco), avós maternos Mario Moraes (nascido na cidade de São Paulo )e Claudina Moraes, (nascida no município de Votorantim).
Eu fui o primeiro filho de um casal jovem e bonitos, meu pai trabalhava na fábrica de cimento desde os seus 16 anos (falsificou sua idade, para poder trabalhar), naquela época não se podia trabalhar menores de idade, minha mãe trabalhava até antes de se casar na fábrica de tecidos da Votorantim.
Cresci na vilinha (eram casas geminadas como as demais localizadas antes da vila de santa helena e logo depois de santa helena velha), até a idade de 6 anos, onde me mudaria para a vila santa helena, em uma casa que não me recordo o endereço, sei que ficava logo atrás da igreja.
O marcante que tenho apenas dessa tenra idade, são as marcas que tenho nas minhas unhas , origem de um acidente na corrente de bicicleta que meu pai usava para ir ao trabalho.
Uma travessura na cozinha, derramaram gordura quente no meu pé esquerdo, o que resultou um pequena cicatriz desta minha arte.
Também da dificuldade e desespero de minha mãe quanto a minha saúde, não tinha muita resistência física, sofria de asma, em uma poluição como era a fábrica de cimento naqueles tempos.
Curandeiros e “passes “como se dizia foram dados em mim, leite de cabra, mel , banana do mato e cresci me desenvolvendo. Com a ajuda de curandeiros e remédios de um curandeiro que vivia em piedade. Quantas e quantas vezes saímos de madrugada, minha mãe , minha tia e ás vezes meu pai, no inverno castingante , de charrete, para que o curandeiro com suas medicinas e ervas benditas me curasse.
Graças a deus e com ajuda dessas pessoas que não me lembro nomes, que muito me ajudaram e assim me curei definitivamente.
Bem, meus tios paternos (Alirio Rocha, Aparecida Costa, João Zico Rocha), tios maternos (Orlando Moraes, Nair Paes, Leonilda Lilva, Luiza Costa ), os homens, todos meus tios trabalhavam na fábrica de cimento, as mulheres cuidando de sua prole, seus filhos.
Assim foi a família de muitos outros que viviam e nasceram na vila de santa helena. São tantos detalhes de cada família que levariam páginas e páginas descrevendo a beleza de cada uma.
Com estes pequenos detalhes de mim, se podem ter uma ideia, àqueles que lerão este artigo com muito carinho escrito, o esforço de nossos pais, tios e amigos para nos deixar um legado de continuidade de nossa existência.
Devido a isso tudo é que hoje quando vejo velhas fotos postadas por diferentes famílias no “facebook”, por meus amigos de infância, etc. Me vem a memória de onde viemos , nossa origem, realmente foram tantos elos marcados entre a comunidade da vila, que esta corrente de amigos de família, nos ata como uma continuidade daqueles que nos acorrentaram em seus corações.
Estes elos, com suas dificuldades no passado, com suas diferentes características dentro de cada família santa helenense, ainda os conservam.
Hoje revivendo algumas fotos remanescentes de minha infância , não tenho na realidade muito o que mostrar a minha filha (muitas fotos se perderam) , somente agora com esta facilidade que a tecnologia moderna nos proporciona, posso mostrar a minha filha como éramos, onde vivíamos etc.
Recentemente minha filha foi passar férias em Sorocaba (onde minha irmãs Nilclea e Nivea residem), esteve passeando onde for a vila de Santa Helena, algumas fotos foram tiradas.
A igreja de santa helena e seu cruzeiro ao lado, eram basicamente a fotografia revelada daquilo que outrora fora parte de meus 21 anos vividos.
Quando minha filha terminou seu trabalho de “pesquisa” me mostrou o resultado, e para minha surpresa, ela simplesmente havia posto o título final, desta forma:
“acredito na infância , acredito na fé, acredito no amor de santa helena”

Noel R Santos, Miami-01/23/2012