O nosso lado “Country” da Vila Velha de Santa Helena.

Também tínhamos o nosso lado “caipira”  “country” como se diz hoje, para diferenciar caipira que muitos o generaliza de pobre, sem cultura, e isto também tínhamos na nossa vila velha em Santa Helena.

Nos rádios como era costume, na Santa Helena, Votorantim Baltar, Piedade, Ibiuna, e todo o interior , ainda podíamos sentir o clima caboclo, sentir o cheiro de café fresco no fogão à lenha, o bolo de fubá cremoso, o saborear arroz com galinha caipira , até os ovos das galinhas tinha esse nome, “ovos caipira”. Isto provando e mostrando que vínhamos de famílias humildes, do campo, muitos tinham a sua rocinha nas alamedas do morro, e daí tiravam de suas plantações, o sustento da família. Eram comuns as roças de feijão, milho (quanta pamonha fazíamos em casa de minha mãe).

Enfim, este lado simples e modesto fazia parte do mundo mágico também. Essa era a origem de meu pai, que vinha de família de piedade, do Jurupará, perto da represa de Itupararanga. Não tenho registros desta época, mas estou em sua pesquisa.

Voltando a Santa Helena velha, ouvia-se no rádio músicas como “coração de luto” por Teixeirinha, era um sucesso. Dizíamos até que usava sua história para fazer dinheiro com a música que fez, mas isto também faz parte do criticismo que até hoje o ser humano utiliza para justificar o injustificável.

Era Tonico e Tinoco cantando “moreninha linda” que simbolizava de certa forma a mulher frágil , e juvenil do campo. Foi neste ambiente que eu me desfrutava da gente simples da roça, das minhas “excursões” de bicicleta a Capoavinha, a fazenda São Francisco, Baltar . As roças eram feitas na enxada, na foice se abria o mato, todos tinham as mãos robustas , calejadas, ora pelo trabalho pesado da fábrica de cimento, e também por sua rocinha que era o seu outro sub sustento. Agora imagino, quanto estes homens se esforçavam para manter sua família, nem só de música vivíamos, mas ela fazia parte de nossos costumes, nas rocinhas, os radinhos de pilha com música sertaneja era escutado, misturando-se com o canto dos pássaros , assustando os tatus que não saiam de suas covas.

Na Vila Velha de Santa Helena, depois de passar pela encosta do morro, passava a vilinha, e assim chegava à casa de minha tia Nair (irmã de minha mãe), que ali morava .

A maioria da Vila Velha, os adultos com seus cigarros de palha, o fumo era cortado com canivete, sopravam suas baforadas no ar que não tinha o mesmo grau de poluição da nossa vila na fábrica. Todos também se conheciam, afinal era uma pequena comunidade em que a maioria frequentava a mesma escola, e os pais trabalhavam também na fábrica de cimento.

A moda de viola fazia parte desta minha lembrança, e por não dizer dos fogões esperando a hora de começar a cozinhar comida quando recebia uma visita.

O jogo de malha era comum embaixo dos eucaliptos na vila velha, porém um jogo de adultos somente, crianças não podiam jogar. Era um jogo talvez oriundo de portugueses ou italianos, não sei ao certo, mas era interessante, os homens mostrando sua maestria nas pontarias em “atirar”aquela pequena roda de ferro para marcar os pontos dentro círculo. Muito lindo aquilo!

Parece que o sertanejo vivia em Santa Helena, no cinema Mazzaropi nos deliciava com seus filmes simples, poéticos e engraçados. O homem do campo, o caipira era mostrado com poesia, o lado do brasileiro puro, mas não estúpido, com pouca cultura, mas de coração benevolente, que não se compra.
Hoje, em Campos de Jordão, existe o hotel fazenda Mazzaropi com seu museu, lagos, viva lembrança de minha infância sertaneja em Santa Helena.

Noel r santos, miami 01/20/2012