Em algum mês do ano 1965.

"A marchar , brincar e a cantar, somos todos do Parque Infantil; amanhã saberemos também lutar, pela paz e pelo bem do Brasil. Minha infância tão cheia de esperança saiu da minha voz esta canção e, no futuro virão outras crianças, que felizes também a cantarão. " 
Assim começava mais um dia. Em uma manhã de 1965, no Parque infantil na Faz.Santa Helena,.todos , meninos e meninas uniformizados, calção azul, camiseta branca, gorro e sacolinha nos ombros. Éramos todos homogêneos, parecíamos irmãos gêmeos, sem diferença de credo, beleza, riqueza, quando crianças que se divertiam, aprendiam, se preparavam para o futuro que não sabíamos ainda.
Era o parque o complemento da alegria, da falta de diálogo com nossos pais, isso sim o nosso pequeno mundo, não tínhamos tempo e nem espaço.
Sim, um dia a mais em nossa ensolarada manhã no parque infantil. Todos se alinhavam em fila, uns atrás do outro, começava pelo mais alto, e o baixo "sofria" atrás de tudo e de todos, porque não podia ver o que passava na frente, somente ouvia os apitos das professoras.
Meninas em fila ao lado, com os mesmos e mais profundo encontro de beleza infantil , sem a malícia, apenas os olhares marotos, sempre assim. Eram lindas em suas cores, com cabelos presos por uma tira, tranças ou soltos sobre os ombros, ainda assim eram bonitas.
As manhãs eram assim, não importava a direção do vento, a fumaça das chaminés da fábrica ,nada iria impedir àquela rotina ,tanta emoção em cada criança.
Depois, as profess oras (Nivalda, Concilia, Margarida), nos colocava em marcha, sabíamos que aquele pequeno e grande mundo era somente nosso. Após exercícios, vinha a leitura, a merenda. Ainda imagino a sopa do dia, o perfume das frutas de agosto, o sabor da banana.
No final do período, ouvíamos a buzina do ônibus (Seu Darcy), nos levaria de volta à vila. Cantávamos na volta a casa, pensando em outro dia no parque... talvez , ou quem sabe, se teríamos tempo para dar uma "nadada" no riacho, pular de cima da ponte.
Esta obra continua, o teatro começa . A cortina se fecha para um ato a mais. Os nomes irão surgindo a partir em que a audiência no teatro vai se deliciando com as aventuras deste menino.
Até mais outro dia no teatro da vida.


Texto de Noel R Santos - Miami,Janieiro, 2012.