Minha mãe, buscou o termômetro de vidro , que continha uma espécie de
mercúrio com a seguinte graduação “alta, média e baixa” o que siginificaria a
temperatura de leitura de febre, tinha sim escala
em números , mas eram tão pequenos que minha mãe marcava ao lado dessa forma
para melhor identificar àquela leitura de números.
Estava tão preocupada com o resultado, febre
alta indicava, e eu ardendo com os lábios tremendo mesmo, em pleno verão de
fevereiro. Nesse momento, chega a sra. Nair, esposa do sr. Lino, nossa vizinha
de quintal , para diagnosticar aquele menino enfermo.
Resultado: “caxumba”.
Nome de enfermidade causada por vírus
infeccioso de transmissão respiratória. Minhas veias respiratórias estavam
bastante afetadas, respirava com dificuldades, o caso era urgente.
Simplesmente me “enrolará”, minha mãe me tomou
nos seus braços e juntos com sra. Nair me levaram ao pronto socorro local. Ali
mesmo foram aplicados remédios e injeções. Preocupação maior eu tinha, de que
poderia contagiar meus amigos, não queria de forma alguma que isto ocorresse.
Fiquei isolado em meu quarto, quase uma semana.
Vizinhos vinham me visitar, cada um trazia diferentes presentes, todos preocupados.
Não queria que nenhum amigo me visse naquele estado, seria muito perigoso , e
eu mais ainda preocupado com a escola, tudo passava na minha cabeça. Algumas vizinhas,
amigas de minha mãe chegaram até a trazer arroz doce com canela, doce que até
hoje eu adoro.
Passado o período de convalescência, eu já
estava na rua correndo com os amigos de sempre, Rrnani, Luiz da Diva, Marizinho,
Mauricio, Zé Roberto(bezinho), todos ansiosos para saberem se estaríamos na
mesma classe na escola, afinal seria o último ano.
Mais surtos de caxumba surgiriam bem mais
tarde, que felizmente foram tratados, afinal de contas essas enfermidades, são
oriundas também do resultado da poluição da fábrica , dos produtos e resíduos
que eram simplesmente jogados nos bueiros existentes da vila, sem nenhuma
preocupação ou pouca preocupação com as crianças.
Até hoje me lembro , quando tomava o bondinho,
na entrada da vila Votocel, era reinante o cheiro de produtos químicos que vinha
das chaminés da fábrica, quantos detritos eram jogados no rio que desembocava
nas corredeiras do rio Votorantim. Eram bolhas brancas , rosadas, isso era
realmente penoso, ver parte daquele rio ser tratado daquela forma, mas afinal
era a fábrica, a mesma que dela nossos pais recebiam o seu ganho para procurar
dar aos seus pequenos uma vida melhor, e foi nisso que eu sempre acreditei, mas a vila com
seus ares de fumaça, sempre foi a minha vila.