Doença de Menino

No ano de 1966, logo depois do carnaval , em meio a toda turbulência de preparativos e ansiedade para o novo ano escolar, em uma determinada manhã acordei ardendo de febre.

Minha mãe, buscou o termômetro de vidro , que continha uma espécie de mercúrio com a seguinte graduação “alta, média e baixa” o que siginificaria a temperatura de leitura de febre, tinha sim escala em números , mas eram tão pequenos que minha mãe marcava ao lado dessa forma para melhor identificar àquela leitura de números.

Estava tão preocupada com o resultado, febre alta indicava, e eu ardendo com os lábios tremendo mesmo, em pleno verão de fevereiro. Nesse momento, chega a sra. Nair, esposa do sr. Lino, nossa vizinha de quintal , para diagnosticar aquele menino enfermo.

Resultado: “caxumba”.

Nome de enfermidade causada por vírus infeccioso de transmissão respiratória. Minhas veias respiratórias estavam bastante afetadas, respirava com dificuldades, o caso era urgente.

Simplesmente me “enrolará”, minha mãe me tomou nos seus braços e juntos com sra. Nair me levaram ao pronto socorro local. Ali mesmo foram aplicados remédios e injeções. Preocupação maior eu tinha, de que poderia contagiar meus amigos, não queria de forma alguma que isto ocorresse.

Fiquei isolado em meu quarto, quase uma semana. Vizinhos vinham me visitar, cada um trazia diferentes presentes, todos preocupados. Não queria que nenhum amigo me visse naquele estado, seria muito perigoso , e eu mais ainda preocupado com a escola, tudo passava na minha cabeça. Algumas vizinhas, amigas de minha mãe chegaram até a trazer arroz doce com canela, doce que até hoje eu adoro.

Passado o período de convalescência, eu já estava na rua correndo com os amigos de sempre, Rrnani, Luiz da Diva, Marizinho, Mauricio, Zé Roberto(bezinho), todos ansiosos para saberem se estaríamos na mesma classe na escola, afinal seria o último ano. 

Mais surtos de caxumba surgiriam bem mais tarde, que felizmente foram tratados, afinal de contas essas enfermidades, são oriundas também do resultado da poluição da fábrica , dos produtos e resíduos que eram simplesmente jogados nos bueiros existentes da vila, sem nenhuma preocupação ou pouca preocupação com as crianças.

Até hoje me lembro , quando tomava o bondinho, na entrada da vila Votocel, era reinante o cheiro de produtos químicos que vinha das chaminés da fábrica, quantos detritos eram jogados no rio que desembocava nas corredeiras do rio Votorantim. Eram bolhas brancas , rosadas, isso era realmente penoso, ver parte daquele rio ser tratado daquela forma, mas afinal era a fábrica, a mesma que dela nossos pais recebiam o seu ganho para procurar dar aos seus pequenos uma vida melhor, e foi nisso que eu sempre acreditei, mas a vila com seus ares de fumaça, sempre foi a minha vila. 

Noel r santos , miami 01/22/2012